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Marien Calixte: O Som do Jazz

Marien Calixte, em entrevista exclusiva para o informativo da FCAA da UFES.

FCAA - Como surgiu "O Som do Jazz"?
MC - Em 1956, havia um programa de cinema na Rádio Espírito Santo sob o comando de José Américo Vidigal, que havia trabalhado na “Voz da América”, levado ao ar diretamente dos Estados Unidos. O programa dele tinha 12 minutos e ele sugeriu-me usar dois minutos com músicas de sucesso da época, em que dominavam os filmes musicais. Comecei a divulgar músicas de filmes estrelados por Fred Astaire, Frank Sinatra e outros. Daí minha participação evoluiu para o jazz. José Américo foi para o Rio e eu fiquei com seu espaço. Dentro do programa que se chamava “Cinelândia Capixaba”, entrou o “Som do Jazz” que tocava uma faixa de música. O programa foi progredindo e passou a ser todo musical, com três edições semanais, ou seja, as segundas, quartas e sextas-feiras.

FCAA - De onde veio o nome do programa?
MC - Em 1955, foi lançado um LP da Colúmbia - gravadora que depois passou a chamar-se CBS - "The Sound of the Jazz", apresentando uma seleção primorosa das grandes estrelas do jazz, como Count Barie, Billie Holiday, Henry Red Allen, Mal Waldron e outros grandes nomes do jazz. A mesma CBS relançou esse longplay e, pouco depois, outro LP, “O que é o Jazz”, de Leonard Bernstein. São discos culturais que ensinam o que é o jazz. E foi desses discos que tirei o nome para o meu programa.

FCAA - Por onde o programa passou?
MC - Inicialmente, como disse, na Rádio Espírito Santo de junho de 58 até o final da década de 60. A seguir, houve uma rápida passagem pela Rádio Vitória, e então migrou para a Rádio Cariacica, tendo lá permanecido por quase duas décadas. Daí o programa passou para a Rádio Tribuna, onde ficou por nove anos e, finalmente, em junho de 2000, transferiu-se para a Universitária FM. Nesses 48 anos no ar, o "Som do Jazz" jamais sofreu interrupções! Sempre nas noites de segunda-feira.

FCAA - Você criou e comandou o Festival do Jazz. O que era?
MC - Na década de 80, eu e alguns amigos como Rogério Coimbra, Afonso Abreu, Luiz Paixão e José Carlos Saleme fizemos uma brincadeira. Reunimos músicos amigos no Teatro Carlos Gomes fazíamos um dia de música livre, ao qual demos o nome de Festival de Jazz. Era uma brincadeira! Dividíamos a bilheteria e íamos, ao final, tomar cerveja. Durou uns quatro anos. Chegou, no entanto, a um ponto em que a turma não queria mais continuar. Então, resolvi fazer um festival profissional.

FCAA - De onde veio a idéia?
MC - No Rio e em São Paulo tinha começado o "Free Jazz". Montei um projeto igual, com três noites de atrações, duas locais e uma de fora. Era música instrumental. Levei o projeto ao Conselho Estadual de Cultura para conseguir verba. E o Festival estreou no final da década de 80, tendo durado uns 10 anos.

FCAA - Por que terminou?
MC - Porque o Estado negou a colaboração financeira que até então vinha dando. O projeto sempre contou com esse apoio, de fundamental importância, e sem ele não havia meios de prosseguir...

FCAA - Não pensou em retomá-lo?
MC - Até hoje recebo convites para voltar com o projeto. Só que isso é uma coisa que já passou da minha cabeça.

FCAA - Quando você começou na carreira?
MC - Foi em 1954. Minha primeira matéria jornalística foi uma entrevista feita com Maurício de Oliveira que acabara de chegar da Polônia, onde havia conquistado um prêmio internacional de música. Que ironia da vida! Quatro décadas mais tarde, escrevi sua biografia – “O Pescador de Sons” - ilustrada com a foto que tiramos nessa primeira entrevista em 1954. Fui, também, discotecário de boate, além de editor chefe de três jornais de Vitória: O Diário, A Gazeta e A Tribuna. Por isso guardo muitas saudades das redações.

FCAA - Por que não continuou?
MC - Infelizmente, predomina um modo de pensar equivocado, que acredita que as pessoas que se aposentam perdem todas as suas qualidades intelectuais, culturais, morais, profissionais quando, bem ao contrário, no mundo inteiro o profissional experiente é dos mais valorizados. Não só pelo que ele pode contribuir para a formação das novas gerações, quanto para os próprios veículos de comunicação! Observo, com tristeza, profissionais brilhantes da minha geração que estão "jogados" em casa.

FCAA - Por que foi para a Rádio Universitária?
MC - Estava na Rádio Tribuna. Mas, a emissora adotou uma filosofia de divulgar exclusivamente música cantada. E o jazz é uma música essencialmente instrumental. Decidi, então, deixar a Rádio Tribuna. Um amigo colocou-me em contato com a Rádio Universitária que, então, me cedeu um horário. E aqui estou até hoje, muito contente com o tratamento que recebo.

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